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- Eh! Lá! Mas que vem a ser isto.
- Isto, o quê?
- Oiça, oiça. O senhor não sabe que é proibido? …
- E é proibido, o quê? – Perguntei eu, espantado e provocador.
- Beijar, pois que havia de ser?
- E quem é o senhor para me proibir? Nós até somos casados – disse sorrindo, como o facto servisse de justificação.
- Eu sou o vigilante deste jardim. Agora se são casados ou não, não me interessa.
Voltei a sorrir. A situação era caricata e até insólita, acreditei eu naquele momento. Pensei que não fosse possível tão disparatada proibição. Tão ingénuo que era! A verdade é que em 1971 as pessoas não se beijavam a torto e a direito nas ruas. Cada um recatava-se. Havia uma certa vergonha, como se dizia.
- Não goze comigo – afirmou o funcionário municipal, um tanto ofendido na sua autoridade. – E não repita – avisou. Tinha acabado de levar um cartão amarelo, digo agora.
- Ora. Se quiser, pode ir fazer queixa ali ao quartel. Sou militar – quis atemorizá-lo.
Senhor do seu papel, o vigilante não se desmanchou:
- Casados ou não casados, militar ou não militar, é proibido beijar em público e o que é proibido é proibido, percebeu? E olhe, se insiste em provocar-me, primeiro multo-o, depois levo-o à polícia por ofensa à moral e aos bons costumes, ouviu?
Ribeiro Aires
http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php?action=getDetalhe&id=1712
1 comentário:
Quero beijar-te
Sentir a tua proximidade
Mas obsceno mesmo, é a nossa troca de olhares.
Haverá alguém que se aperceba disso?
Quero-te
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